Eu dantes dizia-te sempre olá. Agora não.
As noites claras em céu aberto, sob o aconchego das estrelas, e a chuva que caía. Gozávamos tanto com o candeeiro perro mesmo em frente à nossa janela.... gozávamos tanto com tudo. Os Invernos sabiam a cidreira com mel, como tu bebias. A televisão aquecia o quarto nas longas tardes de céu nublado quando passava o dia na tua casa. E as imagens nessa velha televisão eram sempre em duplicado. Havia 44 jogadores nos jogos de futebol... Lembras-te quando eu olhava maravilhada para os velhos livros que tinhas nas estantes... sempre cheios de pó... com aquele ar fantasmagórico que tinham? Eu lembro-me de estar na cozinha e olhar para o quarto. Estavas sempre lá, sentado na tua cadeira que sempre lá esteve, ou então no banco que abanava, ou então na famosa cama que rangia sempre ornamentada com as colchas brasileiras ou então as dos primos da Maia. Mas agora não sei onde te sentas. Eu costumava cantar para ti, representar, escrever-te poemas. Gozavas com tudo o que dava na televisão. Não suportavas telenovelas. Contavas as histórias da tua vida, fazias tudo por mim, e pela minha prima. Tu vivias para nós. Se nós não existíssemos acho que tu também não.
Olha, sabes que me contaram. Contaram-me que olhavas para a porta sempre esperando pela nossa chegada. Pela palavra "olá" que diríamos. Pelos mimos. Contaram-me que a tua esperança nunca morria. Contaram-me que os teus olhos brilhavam quando a porta se abria.
Tenho sonhos em que sonho contigo... muitas e muitas vezes. Sei que estás aí, algures. Andas por aí, a deambular, a ser imaterial ou qualquer matéria que neste momento possas ser.
Mas sabes que faltou aquele momento. Sabes que faltaram aquelas palavras que eu queria ter dito. Sabes que fechar os olhos e pegar em algum objecto significativo, murmurar algumas palavras em surdina e verter lágrimas não é o mesmo que falar mesmo para ti. Queria falar mesmo para ti.
E se pudesses ler isto aqui... agradecia. Isto é mau. Mau escrever algo como uma carta e o destinatário simplesmente ser tão inexistente como a lógica em escrever isto.
Mas estou num dia mau. Precisava de desabafar. Vai passar. Tenha a certeza. Ou talvez não, mas pelo menos é assim que tenho de pensar.
Amanhã escrevo algo mais interessante.
11 comentários:
Obrigada Flávio Miguel Mata e Marisa por se terem tornado seguidores.
Bj
Sofia
Querida Sofia,
Embora estejas num dia mau, a tua escrita e capacidade para o fazer continuam em alta :D
Para quem será esta carta? hmmm
e, sim, amanhã vais estar melhor!
bjs
Bem, enviei um comentário aqui, mas agora estou na dúvida se enviou mesmo :s
Depois diz alguma coisa só para saber, se não der escrevo outra vez.
É que não consigo comentar alguns blog's , anda tudo "chéché" -.-
Joan
Sim Joan, enviou :)
Bjs
Obrigada Daniela, mas está descansada que és igual... triste ou contente escreves sempre bem! :)
E a carta era para o meu avô, fez este mês meio ano e ele fazia anos este mês...
Bjs
Mas não postou, ok ... Nao entendo.
Eu mandei um comment neste mesmo post, a dar um palpite (qe se tornou correcto agora) , but ... forget it
Há, eu pensei que o comentário a perguntar era como que uma experiência, a ver se dava, pensava que era esse.
Não, não postou.
Manda outra vez... se quiseres...
Desculpa
:) Bjs
Só dava um palpite sobre quem estarias tu a falar, que é certamente alguém sábido de vida com quem tu te "conectas-te" profunda e carinhosamente e que certamente ainda te "conectas".
Sim, eram os "velhos" tempos na casa do meu avô. Velhos porque parecem muito mais distante do que daquilo que realmente são.
:)
...a falta...a memória que se entranhou nos dias...mas, querida Sofia, temos de deixar partir aqueles que amamos. Tenho a certeza que o teu avô continua a observar-te e a proteger-te...não foi ele que deixou de existir, mas apenas tu que deixaste de o ver. Nem tudo o que existe é visível e nem tudo o que vemos existe...
(IM)
:) Sem palavras.
Sofia
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