quarta-feira, 13 de abril de 2011

A vida depois da morte, ou a morte que muda a vida PARTE 1

Naquela manhã as nuvens dominavam o céu. O dia estava medonho, triste, obscuro. Mas era mais um dia, um simples dia de Inverno. O meu avô continuava no hospital à espera da cura que poderia nunca mais chegar. Os dias passavam normalmente. Eu tinha algo para lhe entregar, uma coisa privada, mas queria que ele ficasse melhor.
Entretanto chegava a tarde. Saí do meu emprego e dirigi-me ao carro, onde a minha irmã me esperava. Tinha-me esquecido da carta de condução e dos documentos em casa, por isso ela tinha-me vindo buscar ao emprego com medo de ser surpreendida por uma multa uns anos mais tarde. Entrei e pousei a carteira no banco. O carro estava parado. A minha irmã Beatriz tinham um ar preocupado. Uma tristeza indescritível no olhar e um sorriso inconsciente e constrangedor na face. Falou, dizendo-me.
- Temos de ir para casa da tia.
- Porquê? - perguntei, surpreendida.
- Porque o avó Manuel já morreu.
A minha face congelou-se, o meu sorriso desvaneceu-se. Já tinha lidado com a palavra morte, mas nunca daquela maneira. Ela embateu-me sem piedade e paralisou o a minha expressão. Não sabia o que dizer. O meu único avô, Manuel, pois o outro tinha falecido era eu uma criança muito pequena, morria agora também. Uma das pessoas que mais adorava na minha vida. Porquê eu?
Porquê a mim? Quando é que esta dor iria passar?
O carro arrancou e o silêncio foi total. Não conseguia chorar, o choque era demasiado grande. Eu ainda não tinha compreendido as palavras. Ainda estavam frescas na minha mente, incapaz de as entender. Ou incapaz sequer de as crer entender. Capaz de as detestar, incapaz de as esquecer.
E o silêncio mantinha-se. E eu sem chorar. E eu a olhar para a auto-estrada e a ver os carros a passar. E a tua falta penetrava na minha alma, e tinham passado 7 minutos. O que aconteceria daqui a anos? Seria eu algum dia capaz de sorrir da mesma forma?
Cheguei à capelinha, e todas as pessoas comentaram a minha forma física e aparência. Comentaram tudo, mas não foram capazes de fazer o silêncio de que eu precisava. Falaram de futilidades numa inconsciência incompreensível. Achei mau o que fiz, mas não aguentei aquilo e saí cá para fora, vim arejar. Vim perceber, olhar para o Sol que se punha no horizonte.
E depois fui para a casa da tia, então. Aí sim, os pensamentos devoraram o meu ser. Comecei a corar e a tremer. Senti insegurança e os meus olhos incharam. Ficram brilhantes, depois vermelhos, e uma lágrima caiu. E atrás delas muitas outras, então fui para casa da minha avó, sempre era mehor porque ela estava lá. Cumprimentei-a e de seguida olhei para o quarto onde sempre estivera o meu avô. Não sei porquê, mas nunca mais fui capaz de estar lá muito tempo seguido. Parece que sinto a sua presença, arrepio-me, estremeço. Não consigo, não consigo estar lá. Então limitei-me a olhar, e tentei convencer-me de que aquela figura jamais se sentaria no banco que lhe estava destinado. E nos primeiros dias passava no quarto de rompante, nem conseguia estar lá mais tempo. E chorei imenso, lavei-me em lágrimas dias e noites, e no emprego também. Chorei sem parar. E choro, choro hoje e sempre o farei, tenha o Mundo termindado.

1 comentário:

common courtesy disse...

Ao meu avô, por me ter dado a conhecer o que é a verdadeira companhia e o que é a sabedoria e o orgulho de se ser alguém. E por me ter ensinado a ser feliz e me ter adorado apesar dos meus defeitos. Ao meu avô por me ter respeitado e feito sorrir. Aliás, aos meus avôs, pessoalmente agradeço por terem sido quem são, pois me tornaram na pessoa que HOJE sou.