quarta-feira, 13 de abril de 2011

A vida depois da morte ou a morte que muda a vida PARTE 2

Sinto que uma parte de mim morreu, quando percorro as ruas solitárias e penosas a caminho dio cemitério. E quando lá chego tenho a certeza que uma parte de mim morreu. Caminho, pela primeira vez, em direcção à campa do avô. Qual será destas todas? Onde estará o seu corpo gelando de frio e decompondo-se? Mas... mais importante, onde está a sua alma, uma vez que já não habita o corpo? Comecei a ler as letras pequenas e gastas das campas que lá estavam. Segundo o que disseram, a campa do meu avô foi feita em mármore cinzento. Havias poucas cinzentas. Não demorei a encontrá-la, lá estava ela, fria e gélida pedindo algo inexplicável, e lá estava eu, sentindo o seu pedido mas sem poder fazer nada, impotente como o Sol em dias de chuva. Vou escavar, pensei inconscientemente, mas depois apercebi-me da estupidez que propunha mim própria e esqueci essa ideia. E mal a pus de lado, senti uma tristeza profunda e quieta, esperando pelo meu desgaste total. Eu queria, queria escavar e abraçar o meu avô, queria deizer-lhe o quanto o amava, o quanto precisava dele, queria, como nos filmes de ficção, pedir-lhe que voltasse. Mas ele não voltaria, então para quê escavar à procura de algo material que não me ouviria? Porque não fechar os olhos e falar baixinho, numa conecção invisível. É isso que as pessoas fazem, ficam a coxixar para as campas. Mas que é isso? Eu queria ver, ver o meu avô. Olhei para a sua fotografia, que outro remédio tinha eu? Era única maneira de o ver, a única, mas no meu pensamente eu via muito mais, vi-o, a olhar para mim. Então um lágrima escorreu, mas mais nenhuma o ousou fazer porque eu as limpei bruscamente. Pousei na campa as flores amarelas que tinha comprado e deixei-me ficar ali, a olhar, num acto inexplicável.

6 comentários:

daniela fernandes disse...

O tempo vai-se encarregar de levar para longe parte dessa magoa que carregas.
Sei que sabes que essa dor nao vai desaparecer. Mas atenua, e vais-te sentir melhor. Tambem perdi o meu avo.
Força :)

AO disse...

As memórias e os sentimentos ficam, e tantas vezes parecem até engrandecer com o tempo. O teu avó continua bem vivo em ti e através de ti. Pode parecer estranho mas por vezes uma alegoria ajuda a perceber algo que para se explicar de outra forma exigiria muitas palavras: durante a noite não vemos o sol, poderíamos admitir que ele deixou de existir, contudo sabemos que ele não morreu, somente deixou de ser visível por algum tempo; porém, se nos deslocássemos no espaço e no tempo, poderíamos acompanhar continuamente o sol, que está sempre a brilhar e irradiar energia nalgum lugar. Assim é com a vida. A morte não se opõe à vida. É como a noite, nalgum lugar. Enquanto numa outra perspetiva ou lugar, continua a ser dia. A vida é eterna! E assim é connosco, continuamos a viver de alguma forma!

common courtesy disse...

Obrigada, mas é mesmo na escrita que ganho força. Vou terminar este conto, não querendo isso dizer que ainda não ultrapassei a perda, mas querendo sim dizer que quero ultrapassá-la e enterrá-la. Este conto está um pouco alterado, mas também não gosto de escrever muito que seja verdade porque há coisas, nomes e momentos que guardo para mim. Mas tudo o que escrevi eu sinto, sinto a falta. Há uma grande diferença, um coisa é imaginar a presença outra sentir a falta. Uma falta que não se preenche, mas uma falta que aprendemos a contornar e a arranjar espaços para pessoas novas que entrem na nossa vida.
Força para ti também e obrigada, Daniela
ANGEL

common courtesy disse...

Grandes palavras, AO, que ajudaram, mesmo muito. É verdade o que diz, obrigada. Não sei mais que dizer, obrigada, apenas, e um obrigada vale mil palavras que complicariam um simples agradecer, agradecer a palabras que ajudam e ficam cá dentro. Pode ter a certeza que não as esqueço, eu também penso eu muitas comparações e pensamentos, aliás, no cartão, quando meu avô faleceu, dizia assim: Parti para outra viagem, deixo os melhores momentos que vivemos juntos, recordar é um dom da vida, viver é o sentido da morte. Vive e sê feliz por mim.
Na verdade, não conheço quem escreveu essas palavras, mas o meu avô era tão inteligente que tenho a certeza que ele as diria e queria que eu as lesse. Senti um impulso para as ler e lias, e nunca as esqueci. Dá ideia que o meu avô é que as disse, ou pelo menos sentias assim. E tive muitos sonhos, sonhos estranhos em que sonhei que ele estava vivo, e o melhor deles foi quando fez uma mês da sua morte e eu o abracei no sonho, sinto que foi o abraço de que eu precisava, um abraço que terminou na mente mas ficou no coração.
BJS E OBRIGADA
ANGEL

. disse...

Sei que não é fácil Angel e eu sei do que estou a falar. todos passamos por isto… afinal como é possível, a vida ser tão bela e depois acaba tudo, não é bem assim… vou contar-te um segredo, depois da perda de alguém muito querido, passamos o tempo a procurar respostas em todos os lugares… são momentos inconsoláveis e demora algum tempo a aceitar o facto de nunca mais vamos estar com essa pessoa da qual gostamos tanto. revivemos tudo seja através de uma foto ou objecto por mais ridículo que pareça. mas acontece que a vida continua por mais difícil que seja a nossa dor. não adiante fugir, não adianta negar a dor… o que adianta é enfrentar a dor, com muita coragem e fé, como tudo na vida. não tenho nenhuma receita milagrosa para te dar, porque a resposta está em ti, tudo passa pela a aceitação da perda, absolutamente normal. tenta procurar actividades de que gostas, o tempo encarrega-se de fazer o resto… um bjinho pra ti, t

common courtesy disse...

Obrigada, mas também não é a primeira pessoa que eu perco, longe disso, mas sim a que me custou mais a perder. Obrigada,t.