Só para chegar ao seu destino...

Só para chegar ao seu destino... só. Apenas. Viu o que havia para ver, aquela palavra... De lá de cima, do topo, acenavam letras. Só queria chegar ao cimo, ao cimo daquela folha, que parecia não ter fim, talvez porque as histórias não têm fim... Mas a palavra não queria abandonar o seu sonho, não queria abandonar aquela título que esperava por ela. Subiu, subiu, linha a linha. Olhou para baixo, onde outras palavras ocupavam o seu lugar, onde outras palavras queriam estar. Olhou para os lados enquanto era empurrada por um hífen que não sopurtava palavras separadas umas das outras. E subiu, continuou o seu sonho... O topo, aproximava-se, mas será no topo que somos felizes? Não será no fim? No aconchego, neste caso, das palavras finais, na parte em que os bons vencem os maus, ou se calhar não... depende. Aquela palavra não. Chegou lá ao cimo. Tentou ocupar o lugar que queria. Tentou. Todas as outras palavras a empurraram, expulsaram. A palavra então desfez-se em lágrimas e partiu. Cada letra foi para seu lado, sobrando apenas a sombra de uma palavra deixada para trás. Devemos? Devemos deixar para trás? Nunca, jamais. Foram então cair as suas letras noutra folha, e formaram um título. Separadas, já não existia palavra. Ou existia? A morte termina connosco? Não sabemos, mas o espírito da palavra sorriu, e três lágrimas caíram da sua cara por felicidade, e formaram reticências. Estava ali um título. Um título de uma história pronta a ser escrita... O sonho da palavra que já não era palavra, era letra, era alma, mas estava feliz. E isso importava. Que mais poderia importar? Nada. Tinha o seu sonho realizado. E isso interessava.