sexta-feira, 8 de abril de 2011

O olhar de Joana


"Naquele dia saí da escola. Era o penúltimo dia de aulas. Finalmente acabaria aquele sacrifício! Eu e os meus colegas fomos brincar com água. Isso mesmo: água. Um amigo meu tinha uma garrafa e começámos a atirar água uns aos outros... Passado uns tempos era eu com a garrafa e procurava um amigo meu, o Manel. Mas nem cheguei a encontrá-lo, pois ao dar a curva num muro da escola deparei-me com duas pessoas do outro lado, sentadas numa mesa. Um avô e a sua neta, juntos, a trabalhar. Os dois riam alegremente e a rapariga parecia perder as dificuldades com os trabalhos de casa. E eu? E eu, que alma triste e solitária que a ninguém fiz mal? E eu? Que é dos meus avôs? Não os tenho, pois. A morte separou-nos então. Não me peçam para não chorar. Não consigo ver e não ficar a olhar. Rói-me por dentro, mata-me, esta dor. Não me peçam para não chorar, não me peçam, por favor. Já não posso aguentar, esta sensação que me magoa, este sentimento que não descola, esta dor que perdura. Agora aqui estou, no meu quarto chorando. Que mais posso fazer? Bem, tentar esquecer este dia." - contava Joana. E como ela muitas outras pessoas. É difícil... muito difícil aguentar esta dor, esta dor que aparece após a morte de um familiar próximo. É certo que nunca desaparece, mas é uma dor que com o tempo esmurece. É preciso esperar, e desejar o melhor bem aos outros. Se os outros estão felizes, com a sua felicidade também nós o seremos, embora seja difícil, claro. "Recordar é um dom da vida e viver é o sentido da morte". Não devemos pensar dessa maneira. Devemos TENTAR contrariar. Devemos tentar mudar de assunto, bem dentro da nossa cabeça. Devemos ser fortes, e pensar que o nosso familiar falecido gostaria simplesmente de nos ver sorrir. Apenas isso, sorrir. Porque não fazer-lhe a vontade? Ele agora está a guardar-nos. Dantes, éramos vulneráveis, agora somos amados e protegidos por alguém que constantemente olha por nós. É assim. E nada mais.

5 comentários:

- inkheart disse...

"Devemos ser fortes, e pensar que o nosso familiar falecido gostaria simplesmente de nos ver sorrir. Apenas isso, sorrir."
é isso! de certeza que ele quer-te ver sorrir, que ele quer-te ouvir e ver-te verdadeiramente feliz. Costuma doer sempre desde que seja próximo. Costuma doer por muito tempo. Falo pelo que vejo. Deve ser complicado, penso. Eu ainda não sei o que é sentir isso.

o texto está fantástico, a sério. a começar com uma simples brincadeira típica levando até à dor. GOSTEI :D

common courtesy disse...

é complicado, e o mais complicado não é a sensação de ausência física mas espiritual. eu sentia-me tão especial, tão diferente, tão protegida pouco tempo depois de ele morrer. sentia que ele estava sempre ali, sentia coisas estranhas, sonhava com ele. e não era impressão minha, porque nunca o desejei. nunca acreditei sequer nessas coisas, mas porquê ignorar os sinais de alguém em quem eu confiava de olhos fechados??
agora dói ainda mais e, não, a dor não diminuiu, a rotina é que foi a responsável pelo aparente esquecimento obrigado de tudo!! o que magoa agora é a ausência, os sinais que não existem, os sonhos. nada. um vazio entre mim e ele, um nada terrível. uma falta insopurtável!! porque é que ele me está a fazer isto? por mim até me poderia aparecer à frente como nos filmes, nunca teria medo... -.-

escrevi-o há tanto tempo xD

- inkheart disse...

pois tu disseste que o já não o sentias da mesma forma. coisas estranhas? como por exemplo ? :o ele era mesmo importante para ti. nota-se pela forma como falas nele *!
pois, não faço a mínima do que tenha acontecido para chegar a este ponto :S

mas a verdade é que o adorei, não sei porquê, gostei mesmo!!!!

common courtesy disse...

uma vez tive uma sensação muito estranha de presença num teste de matemática... foi demasiado estranho :s
obrigada *

- inkheart disse...

uma sensação estranha, tipo ... ? :o