Crescer neste lugar foi uma benção. As tardes de Domingo passadas a subir e a descer de uma bicicleta, a correr para cima e para baixo na estrada, a velha rua que sempre atravessou todas as estações de uma forma quase científica: a árvore despida no inverno, a árvore verdejante, a árvore amarelada, a árvore castanha. A Lua, no céu estrelado, o cipreste que foi outrora mais pequeno do que eu e que agora, quase docemente, se encosta ao meu parapeito. Este ar calmo, estas ervas daninhas, estas silvas, o candeeiro da rua à direita. As tardes passadas no velho sofá a ver televisão, passadas deitada no chão, a dançar, a patinar, a jogar à bola. Fazer teatro, durante horas. De novo, algo científico: estimular o meu cérebro de criança. Ou então, absolutamente nada científico, para o Inferno com isso, porque fiz ali viagens no espaço e no tempo, e o meu cérebro explodiu em cores.

Tardes, já mais velha, passadas ao leito da secretária de livros abertos em frente a mim. Rodar o meu pescoço para a esquerda e ver a chuva preencher a janela, e os eucaliptos dançar ao som da passagem do tempo e do ar e da existência.

Foi uma benção crescer aqui.