<<eu acordava de manhã com medo de ti,
com medo das tuas palavras cruéis a ressoar nos meus ouvidos,
a percorrer-me o sangue.
ou acordava plena de ti, cheia de ti, podia mal esperar por te ver,
por te abraçar, por vomitar tudo o que acontecera
no espaço mísero em que não nos vimos,
em que não nos falamos,
em que eu me perdi. (mais tarde, só)
lembras-te das nossas tardes de verão?
eu estava da cor das torradas e tinha os olhos mais verdes que esmeraldas,
com um sorriso geneticamente alterado, os braços a tremer com a incerteza da tua condução.
passamos a rir a praça com a música aos berros, o grande palco preto com a cor de um pneu,
cheia de bêbedos a rua e de copos de cerveja de plástica esmagados no chão
nós comemos um gelado. comprámos um íman para o frigorífico,
como se isso fosse relevante, amiga, no nosso caso.
e depois de sairmos molhadas do mar com o aroma do sal atirámo-nos para a areia.
para não mencionar aqui os violinos.
escrevías-me com a tua caligrafia (cali, belo, + grafia)
as palavras mais doces e as promessas mais vagas
e porque não eu não acreditava?
acreditei, é claro.
e com uma crueldade fria e discreta,
mais fria do que qualquer palavra que tenha saído da tua garganta,
deixaste-me como se eu tivesse sido sempre nada,
largaste-me o braço que eu agarrava com tanta força com uma indiferença macabra,
e eu a perguntar-te como estavas, e eu a sonhar abraçar-te.
porquê?
agarro no meu café e sento-me à tua espera na relva do nosso jardim,
mas tu nunca vens,
tu nunca vens.>>
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