algures no labirinto de copas



gostava de criar histórias complexas com os pequenos bonecos de plástico, e parava de brincar bruscamente com medo de não conseguir deixar a dor que já se tinha apoderado de mim ir embora. gostava de representar e vestia-me como as personagens. quando o fazia, sentia-me como elas e falava de maneira estranha. depois acho que me tornei mais normal, não sei que outra palavra posso colocar no seu lugar, e agora dou por mim de novo a habitar um mundo que eu considero meu. não sei que necessidade me moveu nesta jornada, mas agora invento, imagino, exploro os lugares mais estranhos movida pela curiosidade. fui acordada de um sono onde dormia e o choque despertou-me para o que sou? tornou-me naquilo que não sou? quem sou eu, que aceita todos as ideias, que quer fazer todos felizes, que acredita em magia, que tem as mais estranhas ideias? quem sou eu que escrevo, represento, que sou arte por dentro e arte por fora? que invado os mais fundos armários em busca de roupas e objetos interessantes? eu, que sonho viver num mundo de fantasia, fugir pelas passagens de um colégio interno escuro, viajar pelas estradas longínquas ao põr-do-sol e mergulhar em cascatas? eu caminho na mesma estrada que quem? porque é que  percorro este caminho de terra sem saber se é o que quero em vez de pisar o asfalto que todos pisam? de onde vem esta necessidade de diferença? são demasiadas perguntas, perguntas às quais ninguém pode responder.