quinta-feira, 11 de agosto de 2011

victoria - part 1.


Parecias cada vez mais distante de mim. Parecias estar tão longe, e os teus olhos fixando-me de tão perto, os teus olhos tão escuros e profundos, assustando-me a cada minuto. O teu vestido, esvoaçando com o vento, produzindo o silêncio, apagando a brisa que ousava passar. Eramos apenas nós. Tu, fixando-me em silêncio, e eu, com toda a vontade de falar.
Comecei a caminhar até ti, mas tu nem te mexeste. Jamais te tocaria. Estavas tão longe. As minhas pernas protestavam a cada momento, anciando que parasse de caminhar para o vazio, por entre todas as folhas caídas das árvores. Contiuavas ali, olhando para mim com um certo sarcasmo no olhar, confuso pela tua outra verseta carinhosa que parecias transmitir. Parecias extremamente frágil ali, sozinha, apenas olhando, mas no fundo sabia que não o eras. Sabia que eras mais que uma sombra penetrando na paisagem. Sabia que eras mais que um ágil fantasma transparente de emoções.
Estupidamente peguei no telemóvel. Estupidamente tentei tirar-te uma fotografia. Porque fizera aquilo? Não sei. E acho que jamais saberei. Não apareceste na foto. Apenas a pedra onde estavas, vazia. Porque não aparecias nas fotos? Afinal, quem eras tu? O meu olhar tornou-se como gelo, parecendo partir-se a cada minuto e no entanto tão resistente. Mesmo assim, deixei cair o telemóvel, e levantei o olhar. Já não estavas ali. Deixei de ver-te. Talvez tivesses aparecido na foto se eu te tivesse tirado sequer uma foto. Mas é certo que estavas no ecrã. Desapareceste com a foto. Desapareceste com ela.
Voltei a ver-te.
- Eh! - gritei. - não respondeste. Continuaste calada, olhando apenas para mim.
Procurei no telemóvel a tua foto, e lá estava ela: preenchida por ti. Afinal sempre apareceste.
Estava confusa. Completamente confusa. Tu não eras... simplesmente... normal. E continuavas a parecer estar tão perto, que quase podíamos dar as mãos.
Entrei para o carro. Coloquei a chave na ignição e silenciei a rádio. O silêncio era o único barulho ali, e isso eu não podia questionar.
Queria ir ter mais rapidamente contigo. Arranquei a toda a velocidade, ignorando o facto de estar num monte adandonado e de poder dar cabo do carro que me levou tantos anos a conseguir.
Ele descontrolou-se. Tirei o pé do acelarador, mas continuou a andar sem qualquer controlo. Olhei para ti, com pavor, mas tu apenas seguias com a cabeça o trajecto do carro que, dentro de segundos, cairía do monte. E isso era uma visão aterradora: o meu carro, deslizando pelo monte, esmocando-se nas rochas, parando, explodindo e ardendo. A minha vida queimada e destruída. As minhas lágrimas molhando os pneus, os meus braços tremendo no volante. Não queria sequer imaginá-lo. No entanto, seria o que iria acontecer.
Continuei a olhar para ti. Formaram-se pequenas gotas de água nos meus olhos, formaram-se na minha boca pequenos pedidos de socorro. Oh, desgraçada! Se fosses alguém normal ajudar-me-ias ou pedirias ajuda, mas como não és normal não sei que dizer!
O carro continuou a deslizar como um fantasma pelo monte. Todo aquele silêncio, e no entanto ninguém imaginaria que, naquele momento, uma pessoa estava a ver a morte à frente dentro de um carro que literalmente caía.
A rocha grande e a rocha pequena estavam cada vez mais perto. E a rocha grande era mesmo grande. Se o carro embate-se contra a rocha grande os problemas começariam a agravar-se.
Via-a cada vez mais perto. Tu seguias com o olhar os movimentos ténues e repetivos do carro e os meus pedidos de socorro pareciam soar para ti em surdina. Eu gritava, berrava. No entanto, para ti, eu estava apenas a sussurrar, e tu não conseguias ouvir.
De repente, a porta do carro abriu-se. Olhei para ti e, sem pensar, saltei. Fui contra a rocha pequena e não me magooei. Ainda não percebera como fora isso possível! Mas o carro não. O carro continuou a cair, embateu contra a rocha grande e contra mais não sei quantas rochas, grande e pequenas e médias e normais. Começou a rolar.
- Não! - gritei. - O meu carro não! - continuei a gritar, chorando e batendo contra a rocha pequena.
Tu fechaste os olhos. Uma lágrima caiu.
Era aterrador ver o meu carro a cair, desfazendo-se. O carro onde eu viajara com as pessoas mais importantes da minha vida, oferecido pelo meu pai, o carro que eu amara mais que certas pessoas, o carro que me dava o que eu mais queria: liberdade. O carro que parecia nunca se gastar. Infelizmente, o carro que foi até ao monte naquele dia.
De repente, chegou lá em baixo. Não explodiu. Limitou-se a ficar apenas esmurrado, estragado e apregoando um final trágico. Corri pelo monte, e atirei-me para cima dele, chorando e batendo-lhe, esmurrando-o ainda mais.
- Não! - gritava.
Tocaste-me no ombro. Senti um calafrio enorme. Senti-me a empalidecer, e ao mesmo tempo senti algo muito familiar, inexplicável, na tua mão leve.
O teu silêncio foi mais forte que qualquer coisa que quisesse dizer.
- Não era suposto. - disseste.
Olhei para ti. Finalmente tinhas quebrado a barreira que te separava de mim. Finalmente estavas perto.
- Quem és? - perguntei.
Não respondeste. Desapareceste totalmente. Não ficou nada. Nem um rasto. Nem uma palavra. Pegadas no chão. Apenas senti a tua mão deslizar pelo meu ombro e ouvi alguns passos. Virei-me, mas não te vi. Desapareceste demasiado rápido. Desapareceste em míseros segundos. Não percebi o que eras. Desapareceste sem me dar tempo de ter perguntar mais alguma coisa. Apenas vi, no chão, dois passos. Apenas dois. Os outros, não sei deles. Por isso não te pude seguir. Deslizaste pela paisagem, desaparecendo. E eu fiquei ali, a olhar, no silêncio, como tu estavas quando te vi pela primeira vez.

2 comentários:

daniela fernandes disse...

Uma história .. Muito bem! Há algum tempo que não publicavas.
Tens a característica de nos deixar agarrados até à última linha na esperança de que atingida conheceremos todas as partes que deixas no ar. É que tu não começas por explicar tudo, por nos envolver no ambiente da história.. Começa de repente e ainda mais depressa acabaste com ela!! Mas quem era aquela figura? O que era? Porquê que apareceu à rapariga que sofreu o acidente (tu, supostamente)? E vamos lendo rápido para obter as respostas e ... puff :o
Muito bem Sofia, fazes bem xb
Espero pela part2
beijos,
df

common courtesy disse...

:) Estava com uma certa inspiração... bem, que estranho ahaha
Ehehehe obrigada, que mistério...
Bem, essas perguntas terão respostas nas próximas parts... lamento, mas perde a graça... depois isso irá descobrir-se... quando a história continuar!!! Para já, ficamos por aqui xD
Beijinhos... tudo tem resposta... xD