terça-feira, 9 de agosto de 2011


Os pneus do carro deslizavam suavemente pelo alcatrão numa música leve e quase inaudível. O meu rosto reflectia-se no espelho mas os óculos-de-sol não me deixavam ver nada para além da escuridão que eles próprios criaram para me proteger de única coisa que me mantém viva, o Sol. Na rádio suavam as músicas do costume, sempre irritantes e chatas. Uma vez por outra dava uma música de que eu gostasse mais, colocava o som mais alto e ouvia calmamente, apreciando aquele momento que vai, normalmente, de dois a três minutos mas que é tão infinito e humano. Na auto-estrada não há muito para ver. Ou se ouve música, ou se canta, ou se mexe no telemóvel sem qualquer objectivo, ou se lê (o que dá dores de cabeça), ou se relaxa (como eu) ou se olha para o tecto. Mas há pessoas que olham lá para fora. E mesmo que olhem não verão nada para além de carros, árvores, matas e mais árvores a separar as estradas, ou então outras coisas que não sei o nome, ou então placas e placas que atiram à cara impediosamente os quilómetros que ainda vamos ter de gramar até chegar ao nosso destino que parece implorar e chamar-nos, tão distante e diferente de toda aquela repetição travada da estrada.
Mas eu vi para além disso. Muito para além disso. Afinal ainda há beleza. Se não tivesse olhado pela janela naquele momento, não se teria visto o que se viu.
- Ali estavas tu. Tão poderosa, tão impediosa, tão perfeita. Ali estavas tu, ligeiramente circular, desvanecida no horizonte, tão grande, tão bela, tão natural. Ali estavas tu, sem árvores a impedir-me de te ver, sem carros a passar à tua frente, estavas ali, alimentando o meu orgulho, criando em mim um sorriso, sendo simplesmente tu, e isso basta, não? Ali estavas tu, verde e azul, cortando qualquer suspiro, sustendo a minha respiração, molhando os meus olhos verdes que anciavam por uma lágrima, por mais insignificante que fosse perante toda a tua grandeza e perfeição. Estavas ali, como sempre estiveste, comigo a olhar de novo para ti, a sentir toda a tua grandeza, tentando entrar nela, impedida pela humanidade diminuta do carro, uma máquina, apenas uma máquina. Nada comparado contigo. Estavas ali tão cristalina, tão brilhante, tão desumana que me não me senti digna de olhar sequer para ti. Mas vivo, vivo aqui. Vivo em ti, e de certa forma vives em mim. Pensando assim sou digna, pensando assim já tudo faz sentido. A tua beleza, a tua permanência. Estavas ali Terra, estavas ali.

3 comentários:

common courtesy disse...

Eu era para pôr uma imagem do Empire State Building mas depois não achei lá muito lógico... ahahhaa
Ok, apeteceu-me dar esta informação tão pouco interessante... :D
xD

daniela fernandes disse...

Ouvir música é mesmo um momento íntimo, com o nosso interior. Falo por mim, sem dúvida.
São várias as músicas que me remetem para lugares, coisas, pessoas, momentos :)
Ou então, sonhámos ao som das músicas!
Eu adoro andar de carro porque associo o facto de que vou poder pensar.. e ouvir música. Não gosto muito de falar em viagens. Começo uma conversa mas fico baralhada e perco a olhar para a janela.. e a conversa morre ali, no lugar e momento em que deixei de falar.
E depois a minha irmã zanga-se ahahahaha coisas da vida :p
beijinhos

common courtesy disse...

Ahahahah pois é eu sou igual! Associo uma viagem de carro a relaxamento, a um momento em que posso pensar, ouvir música calmamente, fazer planos para os livros que escrevo ahahaha, pensar nas novelas, e sonhar ahahaha nas novelas xD mas é verdade, no carro é onde penso mais. Eu apenas penso muito quando escrevo ou ando de carro, de resto deixo que os pensamentos sejam apenas pensamentos, existentes em mim aguardando por serem pensados, mas que não têm de ser pensados a toda a hora, nem são :D
Beijinhos
sms