Uma lágrima caiu enquanto eu percorria as ruas do cemitério. Sentia-me como parte de tudo aquilo. Sentia-me integrada no infinito, no inexplicavelmente profundo. Eu vivia de alguma forma também numa campa, embora sem saber como.
Tudo era feito de mármore. Havia muito mármore. Mármore branco como a neve, preto como a noite, cinzendo como algo entre a neve e a noite, que ninguém sabe ao certo descrever.
Num cemitério ao pôr-do-sol... há algo mais que uma louca possa fazer? Não há maior loucura que a sanidade. A insanidade retoca o nosso ser no aconchego da mente, enquanto que a sanidade morre com a realidade incapaz de a aguentar e entender. Por isso quem imagina é louco. A loucura é o abraço de que todos precisamos, a abstracção total.
E o sol era cortado com uma cruz. Uma cruz em que eu não sabia se crer. Cruzes. Dois paus, pedras, mãos, metais ou seja o que for que esteja cruzado. Mas afinal que quer isso dizer?... tudo na loucura, uma ínfima parte na realidade. Uma cruz que tentava agarrar o sol pela sua própria sobrevivência. Uma cruz que tentava prender essa grande estrela, no maior acto de loucura. Malvada seja a cruz psicopata que ousou prender o sol sem qualquer razão aparente. Talvez o sol fosse Deus... se é que ele existe. Na verdade posso afirmar que sou católica um pouco por medo da consequência de não o ser. Nem compreendo por que o sou. Dou por mim por vezes a pensar na suposta existência de algo mais afirmando para comigo que tudo é apenas mentira... e de seguida dou por mim a rezar.
Posso afirmar, sem margem para dúvidas, que sou louca.
Que espécie de ser humano se sentiria integrado numa campa se não fosse louco?
Louca ou não, aquilo incomodou-me... a cruz ali atravessando o sol no horizonte. Mas decidi não pensar nisso. Havia baldes por ali. Baldes para limpar e molhar as campas... as campas em que EU deveria estar... ou talvez não. Não vamos pensar assim... mas não há campas livres. Então se não há
em que campa é que eu estou, aqui tão incomodada com a cruz que rasga o sol e as cores?
Tudo bem que sou louca e perturbada... e talvez morta, mas não vou limpar a minha própria campa! A minha família (tenho família?) que a limpe. Pegue num balde e esfregue... mas não toquem na cruz. Na cruz não.
Qual é o meu nome... ao certo? Ah sim, Diana Santos. Então... há alguma campa aqui com esse nome?
Avistei um homem lá no fundo pegando numa chave para fechar o cemitério. Não antes de lhe perguntar o que tenho para lhe perguntar!
Corri com toda a força que tinha e cada vez ele me parecia mais perto... claro. Dei por mim a correr, bem... estava a correr incrivelmente rápido! Nem acreditava no que se passava... inexplicavelmente!
O homem de repente virou-se e começou a correr na minha direcção, mas... não olhava para mim! Talvez fosse buscar qualquer coisa.
Ele aproximava-se cada vez mais de mim. Foi então que a loucura bateu no seu pico. O homem passou para o outro lado por mim. Passou-me. Atravessou-me. Impossível... pensei eu. Se calhar era mesmo isso: eu nem existia. Mas então que fazia eu ali? Parecia tudo tão real... queres ver, não... louca, morta e perturbada com cruzes, cores e homens... ah... e campas.
Já estava louca e estava... por isso não liguei. Chamei o homem mas ele não me ouviu. Dei por ele a pegar no casaco que tinha deixado do outro lado do cemitério. Era por isso que ele corria. Aproximei-me dele e coloquei-lhe a mão no ombro. Ele virou-se de repente, pegou no casaco e começou a andar em direcção à saída novamente.
- Espere! Eu preciso de saber onde está a minha campa! - gritei, mas ele não ouviu. Foi-se embora.
Agarrei-me às grades do cemitério, à porta trancada.
E nesse momento o sol desapareceu. Apenas ficou visível a cruz. Corri e escondi-me atrás de um contentor. Uma louca com medo de uma cruz... era o que eu era. Mas a cruz não fez nada. Deixou-se ficar, quieta, esperando pela lua para a cortar da mesmo forma que cortou o sol.
Então comecei a chorar... e adormeci ali. Se é que os mortos adormecem. Mas ninguém disse que estou morta. Ainda não sei. Queria saber... se o homem me tivesse sequer visto!
No dia seguinte o sol nasceu, mas a cruz não o cortou porque não nasceu desse lado. Ufa!
Saí dali. O cemitério estava ainda fechado. Tinha dormido no cemitério? Ou na verdade sempre lá estivera, e nem sequer dormira? Para mim estas perguntas eram tão normais. E estúpidas.
As portas abriram-se. Entrou uma família. Um homem, uma mulher e uma senhora de idade. Conhecia-os. De onde? Ah, isso não sei...
Aproximaram-se da tal cruz que na noite anterior cortara o sol. E isso foi o suficiente para uma louca perturbada e morta chamada Diana Santos se escondesse.
- Achas que a Diana nos vê do outro lado? - perguntou a senhora idosa ao homem adulto.
- Acredito que sim.
Ai que burra que fui. Era aquela a minha campa! Espera... campa? Campa? Nem a encontrei na prespectiva de ainda estar viva... mas isso era completamente mentira. Estava morta. Ponto.
Deixaram-me flores.
Aproximei-me.
- Obrigada. - murmurei... a medo.
Mas ninguém me ouviu. Que treta isso de ouvirem os mortos. Ninguém nos ouve... pá! Infelizmente... lágrima. Outra.
A família saiu.
Vi-me ao espelho. Quer dizer, queria ter visto. Não me reflecti no espelho. Olha, talvez fosse vampira! Essa é boa! Mas não... não bebo sangue, estou bem ao sol e ninguém me vê. Mas a espectativa foi engraçada. No entando, não sabia se a da fotografia era eu. Dizia na campa Diana Santos e tinha a data de uns dias atrás. A rapariga da foto era bonita... olha, talvez fosse eu! Mas também se não fosse estava louca perturbada e morta... por isso tanto dá!
Sentei-me no muro do cemitério e fiquei a vê-los afastarem-se. Família.
A mulher olhou para trás, para onde eu estava, e estupidamente acenei-lhe. Ela... viu-me. Então não estava morta. Quer dizer... estava. Acenou-me e chamou o homem para me ver. Mas ele não me viu. Abraçou-a e continuaram a andar.
Limitei-me a sorrir. E a olhar para o sol. A cruz que cortava o sol era a cruz da minha campa. As cores eram normais. O homem trabalhava. Os baldes não tinha sido usados. E eu sorria e chorava, sentada no muro, observando o sol... querendo sair dali mas sabendo que isso era impossível. Mas os loucos fazem o impossível!
Fechei os olhos e vi muita coisa, para além daquele cemitério.
"É bom estar morta, o difícil é entender"- pensei.
- Mas talvez seja impossível entender.
E abri os olhos.
23 comentários:
"Na verdade posso afirmar que sou católica um pouco por medo da consequência de não o ser. Nem compreendo por que o sou. Dou por mim por vezes a pensar na suposta existência de algo mais afirmando para comigo que tudo é apenas mentira... e de seguida dou por mim a rezar."
Não teria dito melhor. Sou católica, mas, paira sempre um "mas"...
Está fantástico princesa! A minha irmã leu e adorou :) ela segue-te!
O final.. nós queremos sempre mais. Mais. Queremos entender mais, saber mais. Mas não somos capazes. Somos demasiado frágeis, demasiado pequenos no meio de tudo isto.
beijinhos,
daniela fernandes
Gostei bastante ! :D vou seguir*
É verdade, na verdade sou mas estou equilibrada entre a certeza e a incerteza...
Obrigada, ainda bem que gostaste, e muito obrigada por dizeres às pessoas! A sério!
Muitos beijinhos,
Sofia
Obrigada M A R I S A'!
Bjs,
sofia magalhães
Olá a todos... venho aqui numa missão também. Já fiz publicidade no meu email, escola virtual e msn mas nunca é demais!
Vão ao blog de uma amiga, a daniela fernandes. Ela tem opiniões fantásticas sobre variados assuntos e escreve muito bem. É uma aluna da minha mãe.
Nos meus seguidores está uma foto dela segundo o nome "daniela fernandes", carreguem e depois carreguem na hiperligação "breaking dawn", que é o blog dela. Fantástico! Visitem!
Obrigada Joana já estou a seguir o teu blog...
bj
sofia magalhães
Não sei como é que só tens 12 anos :O dizes cada coisa *-*
eu já te estava a fazer mais velha menina xD achava que tinhas 13 :D
beijinhos
Dá-me o teu e-mail ;)
Obrigada M A R I S A'!
Também gostei muito do teu blog... mas a sério, os textos são mesmo meus!
:D
Bjs
Daniela, estava no teu blog a ler uns textos antigos...
a sério que adoras sims? Tás a gozar! Eu sou completamente louca!Adoro aquilo, mesmo! A sério? Não fazia ideia... coincidência (se é que existem... :) )
Bjs!
hm, não vás ver aquelas antiguidades rapariga xD eu leio ali coisas e já não me identifico com aquilo :s
em relação aos sims? ahaha, então não gostava!! parei com as aulas, e voltei a criar uma família desde que acabaram as aulas!! Muito fiche :p
bjs
Ah isso é verdade, as pessos mudam... mas não tinha nada para fazer...!!!
Ya, e é fiche, mas o meu jogo está sempre a empancar!!!
Olha, queria fazer-te uma pergunta, como adiconas-te a música ao teu blog? Gostava de pôr uma música no meu blog porque por vezes passo aqui bastante tempo a ler mensagens para ver se tem erros e assim e é muito silencioso! XD
Bjs,
sofia
ai piquena .. dá-me o teu msn e eu explico-te por lá em tempo real.. não sei se vais conseguir à primeira. nenhum dos meus amigos conseguiu xD
mas digo-te com todo o gosto :D
Diz-me o teu blog e o teu mail por favor... desculpa mas não quero meter isso aqui no blog... sou defensora do meu anonimato! :)
Desculpa lá, a sério... :(
Bjs,
Sofia
Gostei muito do texto Sofia (:
Obrigada! :)
Mas é nisto que cremos. Querendo ou não, uma coisa é certa... Morremos
"Somos um momento no tempo".
E talvez seja esta a sensação, esta mesma que descreves-te, da rapariga morta... Querer agarrar e não conseguir mas, ao mesmo tempo, reconfortante, inexplicavel... Como se tudo fosse um sonho
E depois disso, tudo segue... Como se nada ficasse...
Eu sou mais de acreditar no "We're here because we are here", mas adoro estar consciente deste absurdo que me permite aproveitar o hoje!
Mas "talvez seja impossivel de entender"
Well... Gostas de SIMS também? Eu jogo, e adoro! (e tenho a tua mãe criada, ahah. Ando para criar uma nova familia e incluir lá a Daniela (pq sozinha não consigo aturar o Joel Daniela, e ele só sabe falar para mim em ves de ir chatear os outros companheiros da nossa mansão!!)
Um beijinho Sofia, que como sempre,fantástica!
Joan
É verdade!
E quanto aos sims... eu já lá fiz as maiores loucuras... já para não falar que filmo tudo e fotografo as coisa mais bizarras... como sims invisíveis quando o jogo bloqueia...
Eu já lá criei a minha mãe, a Marilyn Monroe, a Joana Santos, Extraterrestres, ah, e muitas personagens dos Laços de Sangue... e criei a Daniela Ruah... ah, e a mim própria!!! Mas eu não sou propriamente um exemplo... faço explodir objectos, espio pessos, traio as pessoas, faço péssimas makeovers, telefonemas a gozar... tenho em casa vampiros, múmias, simbots... ah, e uma vez detonei um carro da polícia e fiquei sobre vigilância policial durante 7 dias... eu adoro fazer lá o que não posso fazer na vida real...
Mas também faço coisas boas... claro... dou a melhor vida aos meus sims, com pontos de celebridade e cumpro-lhes os desejos e desejos vitalicios... pronto... :)
Bjs, e obrigada
Bjs
Ahah, eu tenho lá a tua mae, muitos colegas e eu própria.. Mas também não sou o exemplo. Agora o meu SIM só está bem no cemitério á noite a falar com fantasmas, em casa dos amigos e é sempre trazida pela polícia a casa... Depois a tua mãe fica chateada e aborrecida, ahah. Criei aquilo á pouco tempo , porque o meu jogo antigo era bem melhor, estava cheio de criaturas estranhas, de cabelo verde e assim ... Mesmo giro.
Agora vou ver se deixo os colegas a arder numa casa com uma lareira qualquer.. Ou então crio novo jogo, com novas personagens... Voltamos aos cabelos verdes, roxos, piercing etc etc...
Claro, temos que os tratar bem, coitadinhos... Eu gosto sobretudo de não trabalhar e ser milionária, eheh
PS. Como se criam extraterrestres?
Beijinho,
Joan
Ah, eu própria também já criei. Eu confesso... gosto de criar sims, mas criar sims iguais a pessoas é que eu adoro... :)
Ah sim... eu tenho um caça-fantasmas, e adoro ir para lá apaziguar as almas, apanhar os espíritos e fazer colecção!!! Ah... sim... e a polícia... agora tenho uma que quer ser, lembrei-me por causa da polícia, Líder do Mal ou não sei como se diz... que é o topo da carreira criminal, ramo maléfico.
A minha mãe... ahahah!!
Exacto, eu uma vez criei um extraterestre...
Ahahah... mas queres matá-los? Olha, vou dar-te um conselho, já fiz isso... podes ou queimá-los, fazê-los arder e isso. Ou então há duas formas melhoras: ou mandas os sims com 0 de capaciade de engenhocas arranjar uma apararelhagem e quando forem electrocutados mandas outra vez que morrem logo, ou então mandas um sim para uma piscina, tiras as escadas, colocas paredes à volta da piscina, sem portas nem janelas... num piscar de olhos morrem afogados!!! Mas se não quiseres vais ao Editar a Cidade, crias a nova família, depois "mudar família activa" e passas para a nova... (isto suponho que jogas SIMS 3...)
Ah, quando a tratar bem... é verdade... mas tu não fazes ideia eu estoiro aquilo tudo com batotas... eu vivo literalmente delas... enfim... tenho que conseguir o que quero... uso batotas para dinheiro, sims, objectos, recompensas, etc etc.
Sim... e eu também não trabalho muito diga-se de passagem.
Bjs
PS: quando aos extraterrestres... se for no sims 3 não dá, apenas podes, no criar um sim, mudar-lhe a cor e isso, mas no sims 2 consegues mesmo criar... tens de viver naquela cidada... a VilaEstranha. Lá há. Agora como eu ultimamente tenho jogado sims 3 aí não dá... é pena, mas há vampiros, múmias, aimbots, simbots... há outras coisas... e sabias, no sims 2 também há lobisomens...
:) Bjs
Lider do mal , ahah. Aposto que tem como qualidade: malefica, ahah
Lobisomens? Oh, que pena... Não tenho sims 2 , só jogo mesmo no 3 .
Agora vou afogar um para ver se resulta , eheh . E de seguida vou acrescentar mais uns "bicharocos" ao jogo para me dar um bocado mais que fazer
Beijo
Sim, tem!!!
E eu também não jogo muito no 2, mas já joguei é por isso que sei.
Sim, tenta afogar, resulta!
:) Bjs e boa sorte para isso... sua assassina de pessoas virtuais inocentes!!
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