domingo, 28 de abril de 2019


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Vejo isto como uma fraqueza, isto de escrever para "desabafar". E também vejo como uma fraqueza a minha aparente incapacidade de simplesmente parar de estar triste em relação a um determinado assunto que me assombra há anos, em labirintos de imprevisibilidade, com flores pintadas de acessos repentinos de uma esperança tola e desânimo constante nos caminhos sem saída. 
E ainda tenho a audácia de afirmar que não crio expectativas. Crio, sim, em relação a tudo e mais alguma coisa, mesmo que não queira admitir que o faço. O que começou com um "se assim fosse, seria ótimo" e alguns "quem me dera" misturados com descrença tornou-se num quase objetivo que só não o era mais porque permanecia uma certa nuvem negra sobre a minha cabeça (que eu decidi , no entanto, maioritariamente ignorar).
Ora, já lá vão uns anos e agora começo a perceber a minha avó quando afirma repetidamente que queria ter sido médica. E eu dantes, porque nunca nenhum sonho me tinha saído pela culatra, revirava espiritualmente os olhos porque na minha cabeça não havia qualquer tipo de sentido em ruminar o passado e as possibilidades que ficaram por terra. 
Continua a não fazer sentido, mas poucas coisas na vida o fazem. Por vezes, oiço uma voz dentro de mim uivar pelo que queria e não tem. Valorizo todo o resto que correu bem, mas a voz parece não se calar. Agora a descrença tornou-se uma presença evidente que não se deve sequer ignorar. No fundo, há outra voz que me alerta para os perigos de me continuar a agarrar a isto, tal semente morta de árvore que tenta florir. 
Chega. As ilusões sabem bem por um curto período de tempo. Tudo o que é demais apenas dói. 
E dentro de mim continuo a achar que não devo simplesmente deixar andar e ver se acontece, mas aliar essa inércia a algum tipo de ação, se é que isso é sequer possível e psicologicamente viável. Mas dentro de mim também já não sei o que fazer e só resta uma certa revolta e outra coisa qualquer que também dói.

-. s

2 comentários:

- inkheart disse...

uma vez, uma menina pequenina de 14 anos, cheia de luz e esperança, disse-me "where there's life, there's hope" ... e eu só espero que ela nunca se esqueça disso.
Também as desilusões fazem parte. Também muitas alegrias doem para muita gente. Tudo depende da forma como lidamos com as coisas e da forma como aprendemos a responder-lhes. um dia, perceberás que também essa desilusão te trouxe outras coisas. outros lugares. outras pessoas. outros valores. outras aprendizagens. um dia.

Que saudades eu tinha de vir cá parar e sentir os velhos tempos de nós, little sis.

common courtesy disse...

Tens toda a razão. E eu sei que sim. Mas este foi literalmente um "escrever para desabafar", como afirmei no início.

Cada vez que venho aqui também fico imensamente nostálgica.