

Como uma chávena de chá, que por mais bela e estimada que seja, é para ti fácil atirá-la contra a parede. Um tesouro, de uma sorte que sobre ti se abateu, com a sua pega de bordas de oiro e o contorno em cobre polido. Porcelana essa que amavas mesmo que muitas das vezes ela produzisse barulhos estridentes, que um dia arranjara maneira de se colocar atrás dos outros serviços de chá, e tu ora a vias, ora a não vias. O oiro, baço; as bordas, lascadas; o fundo, amarelado. E no entanto não parecias ver isso com clareza.
Ora um dia lanças-te-a à parede. Os mordomos comentaram que a encontraram em estilhaços até debaixo das cortinas; a governanta picou-se no pé e tiveram de lho coser. Nenhum percebeu qual a causa do teu repentino acesso de raiva e indiferença pela chávena que todas as noites observavas com gratidão e mágoa.
Se calhar viste-lhe o oiro, se calhar foi das lascas, se calhar desprezaste-lhe o fundo.
Sem comentários:
Enviar um comentário