terça-feira, 29 de julho de 2014



Não era preciso ser um sítio em particular. Nem nunca tinha pensado nisso. Até podia ser só um estado de alma. Ou um sentimento. Ou qualquer objeto onde pudesse fixar o olhar. Coincidir com alguma coisa. Era isso o que procurava. Naquele preciso momento. Pensava nisto, enquanto do lado de lá do vidro cheio de pó, a vida circulava confusa, vibrante, mas vazia e alheia à sua própria existência. E se aquele vidro fosse tudo? Sim…se aquele vidro separasse os seus pensamentos da vida vazia lá fora? E se aquele vidro fosse a diferença entre existir e querer ser alguma coisa? Não…era só um vidro….mas um vidro que separava o oxigénio que todos partilham, do peso dos dias que ninguém ousa carregar.  Esfregou os olhos lentamente, respirou fundo e sentiu que as palavras se lhe entalavam na garganta. Tapou os ouvidos, fechou os olhos. Um suspiro arrancado lá de dentro embaciou o vidro. E a vida ficou mais longe. E o ar mais quente. E os sonhos, esses…irrespiráveis.
 

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