
Não era preciso ser um sítio em particular. Nem nunca tinha pensado nisso. Até podia ser só um estado de alma. Ou um sentimento. Ou qualquer objeto onde pudesse fixar o olhar. Coincidir com alguma coisa. Era isso o que procurava. Naquele preciso momento. Pensava nisto, enquanto do lado de lá do vidro cheio de pó, a vida circulava confusa, vibrante, mas vazia e alheia à sua própria existência. E se aquele vidro fosse tudo? Sim…se aquele vidro separasse os seus pensamentos da vida vazia lá fora? E se aquele vidro fosse a diferença entre existir e querer ser alguma coisa? Não…era só um vidro….mas um vidro que separava o oxigénio que todos partilham, do peso dos dias que ninguém ousa carregar. Esfregou os olhos lentamente, respirou fundo e sentiu que as palavras se lhe entalavam na garganta. Tapou os ouvidos, fechou os olhos. Um suspiro arrancado lá de dentro embaciou o vidro. E a vida ficou mais longe. E o ar mais quente. E os sonhos, esses…irrespiráveis.
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