sábado, 31 de agosto de 2013



E sim eu sei que te custa, a ti, perceber. Perceber como é que eu trocava as roupas com as quais não me identifico e que tu, como se de um deus se tratasse, veneras, pelos vestidos. Não para me sentir uma princesa como tu gostarias por algum tempo, mas sim para me sentir mulher, e quando digo mulher não falo das raparigas de hoje. Do tumblr, das vans, dos cabelos lisos. Falo do trabalho que é tão verdadeiro e do encanto delicado, falo das mãos grosseiras e dos cabelos espessos, cor de canela, os olhos brancos e grossos das lágrimas quentes. Falo daquilo a que me poupava, sabes, pequena? Poupava-me às roupas, e aos biquínis fluorescentes, ao caminhar confiante de quem encontra nas horas do dia a infinidade da juventude. Mas não sabem que custa morrer de espada no peito, nem a trazer ao mundo a criança que sofre num mar vermelho (e nem eu sei), porque se soubessem não escreviam nas paredes young, wild and free. Consegues entender toda esta coisa que em mim se passa? É que eu presumo, pequena, que te devas preparar para me ver enlouquecer. Devagar e sem que os outros o possam ver, tudo piora cada vez mais. As horas que demoro a comprar roupa crescem, o desprezo pelas saídas a lugares cheios de gente nova, as conversas que, remetidas para a realidade, eu corto. Os momentos de silêncio em que, não basta murmurar-me, tens de gritar para me trazer de volta e as coisas que me são ditas, as coisas quem eu nem oiço, e às quais respondo. As conversas que mantenho sem saber do que falo. 
A minha questão não é a questão comum: como me vou integrar neste mundo a que pertenço?
A minha questão é mais complexa, mais desprezível, mais insana... a minha questão é como fugir a um mundo aonde não pertenço?
Falas para mim, e eu oiço-te falar, mas não quero nada do que dizes. E ajo normalmente, e rio-me para ti, quando a minha cabeça foge e me abandona no meio do nada, completamente a meu cargo.
Desculpa, pequena. Sou eu que estou mal, não és tu.