
<<Quando me deitei ontem sabia já que não iria adormecer. Podia pensar muito, cantar em surdina, sonhar com o que gostava que acontecesse e não acontece, mas não ia dormir. E pensei muito. Em ti. Neles. Em mim. Naquilo que desejo. Naquilo que temo. Pensei em como fazes anos em breve, como será o teu segundo aniversário passado na ausência de ti próprio. Pensei em como corria para o mar em pequenina, mergulhava na água e me agarrava ao teu braço quando uma onda parecia demasiado grande para a minha frágil força. Confiava em ti de olhos fechados, há uns anos para cá vi a oportunidade de melhorar a minha relação contigo, confessei-te o que pensei nunca ser capaz de te confessar. Depois tu traíste-me em silêncio. Enquanto o sol brilhava lá fora, cresciam raízes do que há de mais falso por baixo de nós. E a raiva tomou conta de mim, muito deixou de fazer sentido, cresci, deixei para trás a inocência dos meus dias. Depois tentei deixar de lado essa raiva e iludi-me de que tinha resultado. Não resultou. Ela continua lá e há-de continuar. A saída é tentar não pensar nela, tentar ignorar de certa forma aquilo que sinto sem ter vontade. Agora penso em ti e a minha mente invade-se de memórias tristes. De quando agarrei com força no boneco de barro que me deste e o atirei para o chão enquanto as lágrimas escorriam pela minha face e eu podia vê-lo a estilhaçar-se. Na verdade, algo travou o meu braço e ele partiu-se apenas em dois bocados. Hoje esses dois bocados estão guardados numa gaveta. Abro-a quase todos os dias e todos os dias o vejo. Lembro-me de gritar contigo ao telefone, das dezenas de conversas que tivémos, das palavras duras que me disseste. Também rasguei uma fotografia nesse dia e não tenho mais nenhuma porque guardei as outras tão longe de onde as pudesse encontrar que já não sei onde estão. Lembro-me de copiar as tuas mensagens para um papel e depois de as apagar, dos abraços que eu não dei. Há um ano que não te dou um abraço. Não é que já não tenhas tentado, mas cada vez que o fazes sinto o meu coração a escaldar e umas voz algures a murmurar-me vezes sem conta. Falsa, diz. E sabes, dói. Dói muito. Depois adormeci a pensar em quantas pessoas abraçava naquele momento se pudesse.
Hoje, houve aula de inglês. Como é já hábito da professora, fomos docemente obrigados a contar as nossas férias.
- So, Sofia, where did you go this holiday?
- I went to the Algarve, for about one week. I went to Spain, to Santiago de Compostela. And... I went to my father's house for about two weeks.
- Did you enjoy it?
A turma olhou toda para mim ao som daquela pergunta, porque eles sabem. Fixaram-me atentos. Não sabes quão forte batia o meu coração e quanto tremiam as minhas mãos sobre o sorriso alegre da professora. Saiu-me uma resposta tremida, em jeito de pergunta, tão alto que qualquer um deles lá à frente poderia ouvir.
- Yes!>>
10 comentários:
Apesar de tudo... eu gostei muito de ler isto.
Nobody will ever kill your light. Trust me.
obrigada. =)
Almost is enough for a lot of consequences :s
Este texto está altamente
o texto ta cool
TÁ SUPER FIXE
oh :DD obrigada!!
1º: este título entre logo a matar. está profundo.
2º: sinceramente? não consigo dizer-te tudo o que senti ao ler este texto. já te disse uma coisa aqui e ali. agora posso acrescentar ainda que, quando li este texto pela primeira vez, tive de fazer um esforço para segurar as lágrimas. sim. foi mesmo isso. e isso já te diz muita coisa, eu sei. a "forma" como escreveste faz com que daqui, deste lado do ecrã, arrisco a dizer mesmo sem saber de nada, as palavras sentem-se, as palavras batem mesmo lá no fundo e ecoam. está tão, mas tão lindo ... sentido ... está profundo, está fascinante.
adorei * ... o resto? tu sabes *
é dos teus melhores textos (;
1º é uma mistura de um título de uma música da taylor swift feita para os Jogos (ai, ai, os jogos... que saudades xD)
2º obrigada. independentemente da vertente real ou de fantasia deste texto, levar um leitor às lágrimas é sempre bom sinal. falando do resto...... foi o que saiu na altura. foi só isso, o que me saiu na altura.
obrigada. e sim sei. *
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