
Éramos tal e qual.
Unha com carne.
Água com sal.
Éramos iguais. Nada nos distinguia. Eu, deitada ao lado do teu corpo, frio e pálido. Os nossos olhos estavam fechados. Os teus, azuis e gelados, quietos na plenitude do tempo. E os meus, castanhos e doces, quentes e vivos percorrendo a tua alma transparente. Os nossos ouvidos surdos. Tudo à nossa volta passava: os carros, as fábricas, os gritos. E nós não ouvíamos nada, pertencíamos apenas a nós, habitávamos a nossa própria história. E os cheiros. O agridoce cheiro do mel, o açúcar forte do verão, as orquídeas balançando com o vento. Não cheirávamos nada. E os nossos corpos, leves e frágeis. As nossas pernas incapazes de andar, os nossos braços incapazes de agarrar, as nossas mãos incapazes de tremer. A minha mão esquerda anciando por escrever, a direita anciando por desenhar. Ser ambidestra sempre foi uma virtude minha. E tua.
Por isso éramos iguais. Exatamente iguais: os corpos imóveis, os sentidos paralisados na incomplitude do agora. A única coisa que nos distinguia era o facto de que... eu respirava e tu não.
2 comentários:
Está lindo Sofia ;)
Pergunto-me, onde vais tu buscar imaginação para criares textos tão bonitos. Este está, particularmente, belo. Bem desde o início. E quando acabamos de o ler, fica aquele rasto de tristeza, que não deixa de ser belo à sua maneira.
Parabéns Sofia, e continua a com essas tuas ideias!
beijinhos pequena :b
Daniela Fer.
Obrigada! Inspiração misteriosa... :) formas de ver o mundo, é a única maneira que arranjo de justificar... talvez até diga tudo sem saber...
bjs ;)
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