"e tudo o vento levou"

Pergunto-me porque é que tudo tem um preço. Pergunto-me porque é que tudo muda, porque é que "tem de ser assim", porque é que todos nos dizem "tinha de ser", e nós continuamos a olhar para o céu, a perguntar pela vida, na sua antiguidade, a perguntar pelo passado, apagado pela atualidade. O céu parece sempre tão igual, sempre tão pacífico, tão sereno, tão sarcástico, olhando para todos nós, insignificâncias deambulantes, sem nada fazer. Olhando, com toda a sua glória, para aqueles que o olham, invejando-o por ser sempre tão semelhante, e pensando em como a sua vida é sempre tão diferente. Se queremos ser, primeiro temos de deixar de ser e mais tarde admitir que ficamos por ser. Cada vez que mudamos, assinamos o tão temível pacto com o Diabo, ou uma coisa assim parecida, um tratado daqueles que não voltam atrás, que não recuam no tempo. Apenas nós, no nosso interior, recuamos no tempo. Apenas a nossa memória é capaz de parar no tempo, enquanto todo o resto gira e volta a girar, sem nos dar tempo sequer para viver o momento que, quando damos conta, acaba de passar. É tudo tão rápido, tão cruel. As coisas novas são tão positivas, tão diferentes, tão benéficas, isto segundo o que todos dizem. Então e as coisas que ficaram para trás? Então e as coisas que, levadas pelo vento e arrastadas por nós próprios, deixaram de existir? O sorriso fixo, sempre constante, transforma-se numa indecisão, numa simples cara sem expressão, pobre de coração, gira e roda em vão, como um pequeno vagabundo, de mochila às costas, procurando o rumo da vida, olhando para todos os lados, quando o rumo está simplesmente em nós, e nos atos que, para nós, significam "alguma coisa".

Tem lógica afirmar que mudamos para melhor, senão não teríamos mudado. Mas e todo o resto, que não era tão bom, mas que fora capaz de nos fazer sorrir e afirmar, com toda a certeza, jurando por tudo: "aí, eu fui feliz"? Isso não chega? É sempre tudo insuficiente, é sempre tudo incompleto. Estamos sempre de costas voltadas com a vida, porque o que já estava mal e tem de mudar, mas o que foi mudado e está bem, e sente a falta do que dantes estava mal, e que depois descobrimos que na verdade estava tão, tão bem... "de costas voltadas não se vê o futuro, nem o rumo da bala, nem a falha no muro", como já dizia Pedro Abrunhosa. De costas voltadas não se vê nada, rigorosamente nada. Mas continuamos, outra vez e sempre, a nossa procura. As mudanças são necessárias, necessárias para nos tornar naquilo que somos, e devemos encará-las, uma por uma, como a continuação de algo, e não como o fim, porque embora o que está para trás acabe, nunca ficará apagado, e a nossa memória vale mais que tudo o que à volta dela. É a continuação da nossa vida. Tudo tem um razão de ser, "só vivemos uma vez", as coisas nunca acontecem duas vezes da mesma forma. Um dia, olharei para trás e pensarei na minha vida, no que fiz, no que enfrentei e terei orgulho em mim, orgulho na pessoa que sou, e esse sim, será o maior prémio que algum dia me podem dar. Hoje, nos dias que correm, fico pelos sonhos, fico pela lei do imaginar, fico e continuo a sonhar, e isso eternamente me continuará a sustentar. Não sou capaz, nem nunca serei, de viver sem um objetivo, de viver sem um sonho, sem um meta, aliás, várias, todas definidas, e trabalhar desde sempre para elas. Se um dia não se concretizarem, outras se concretizarão, porque (vem aí a frase secante), "tem de ser assim". A maior parte das pessoas só têem uma certeza na vida: a morte. Eu, invulgarmente, tenho duas. E terei sempre, eternamente, porque me conheço o suficiente para saber isso, ou seja: Na vida eu tenho duas certezas, a primeira é a morte, e a segunda é que tenho a certeza que terei sempre um objetivo na vida. Resumindo, apenas sei que vou morrer e que ando a procurar.