"I'm so sorry, I forgot you, let me catch you up to speed. I've been tested like the ends of a weathered flag that's by the sea."
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
isabella - part 4 final.
Os meus passos ecoaram silenciosamente. Aproximei-me de ti e coloquei, mais uma vez, a minha mão no teu ombro. Ficámos as duas sem palavras.
Tem piada. Todos acham que nós, os fantasmas, somos superiores ao humanos, mais que a alma, mais que o espírito. É simples: estão profundamente enganados. Somos humanos, humanos iguais aos outros, diferenciando o facto de estarmos mortos. Parcialmente mortos. Eu ainda sinto, eu ainda vejo, eu ainda choro. Não sei por quanto tempo, e tenho pena disso. Não tenho medo da morte, já passei por ela, tenho medo sim de desaparecer, do que poderá acontecer a seguir. Apenas tive tempo de ser uma criança, uma criança de sete anos. Por isso acho que não cometi muitos erros. No entanto, voltei para ver se estavas bem e só consegui assombrar-te e destabilizar-te, e talvez este seja o pecado que me levará até ao Inferno. Mas não quero pensar nisso! Irão perdoar-me! O espírito continua! A minha vida continuará! Bem, talvez. Até pode não ser nada assim.
Finalmente ganhei coragem e deixei umas palavras meias mortas e apagadas escapar:
- Victoria, há tanto tempo.
Olhaste para mim e, ao contrário do que eu pensava, não ficaste aterrorizada, não ficaste em pânico, não tremeste. Olhaste apenas para mim, com um sorriso leve e um certo brilho no olhar.
- Voltaste. – disseste.
- Tinha de saber de estavas bem, depois da tragédia no penhasco. Eu caí. Eu caí e tu tiveste a culpa e viveste com ela. E eu nunca soube se sobreviveste, porque eu morri ali, debaixo de água.
- Eu estou aqui não estou? Porque voltaste tantas vezes?
- Fiz porcaria em todas elas.
E as duas rimo-nos. Rimo-nos largos segundos.
- Não mudaste.
Era engraçado. Estávamos ali a falar, a viva e a morta, o fantasma e a pessoa viva.
- Acho que a transparência não afecta as emoções.
Olhaste para mim.
- O teu sentido de humor aumentou! Não devias ser uma criança?
- Os fantasmas não têm idade. Fecha os olhos.
Pedi que fechasses os olhos, e tu o fizeste. Fiz o mesmo e disse, com voz de criança:
- Já podes!
Ficaste muito espantada.
- Bella!
Eu ri-me. Estava como quando era criança. Pequena, embrenhada nos meus cabeços encaracolados.
- Bem, com a tua idade podias ser minha filha! – gracejaste.
Voltei à minha forma normal. Outra vez adulta, outra vez de vestido branco.
- Mas estás bem, não estás?
- Estou feliz. Agora estou feliz.
Abracei-te, dizendo:
- Serás sempre a minha melhor amiga, esteja eu viva ou morta.
E depois eu afastei-me. Fui ficando cada vez mais transparente, tanto que o meu colar escorregou. O colar que ficou para sempre como minha recordação. Sim, recordação. Recordação porque eu fui. Desapareci. Morri, e não parcialmente. Simplesmente fui. Fui descansada, fui feliz, fui realizada e convencida de que o meu reinado não acabaria nunca, o espírito continua. Fui para o outro lado, onde a terra gira ao contrário, onde os rios nascem no mar, onde as árvores se alimentam do céu, e o calor gela os olhos. Fui para onde não há ninguém, onde nada está certo, onde cada segundo demora uma hora e cada dia não é nada mais que um ano comum. Onde cada Fevereiro multiplica os seus dias, e cada lágrima cai até chegar aos olhos. Andamos todos para trás e estamos tão mortos quanto vivos. Fui. Fui para um lugar que ninguém sabe onde fica, que ninguém sabe onde é. Nem eu. Nem eu sei onde fica. Mas Victoria está bem. Ela está bem e isso sim, importa.
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6 comentários:
Muito bonito! E olha que eu sou muito exigente!!!
:-))
(linda, linda esta música...the spirits carries on...há uma enorme paz que me invade sempre que ouço esta música...)
IM
Pois isso eu sei, infelizmente ahahahaha
(E é verdade, :) A mim também, paz, força, e beleza interior. Sentido de ritmo, vontade de fechar os olhos.)
BJS
sofia
Querida Sofia :p
Não penses que me esqueci de ti e deste teu espaço. Tenho vindo sempre que posso.
A história ficou muito, muito bonita. Eu gostei. Adorei a parte em que descreves o "outro" mundo. Está fantástico, e com originalidade. Até parece que já andaste por lá ;) (quiça em sonhos!)
Parabéns!!!
beijinhos
daniela fernandes
Obrigada querida :D
Eu sei que não também não se pode estar sempre aqui alapado, eu é que gosto de escrever e por isso venho ;)
E obrigada, mas... não, acho que não andei por lá ahahaha nunca se sabe numa vida passado o que passei eu uma pessoa nunca sabe!! E obrigada pela parte da originalidade e por todo o resto :D
BJS
sofia
De nada ;)
Bjs
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